RUAS
Índia
Fragmentos de Identidades
Cotidianos na Índia entre abundâncias masculinas e presenças restritas.
Na Índia de 2024, apenas 32,8% das mulheres participam da força de trabalho, contra
77,1% dos homens. Mesmo com o crescimento recente — de 23% para 41% em pouco
mais de cinco anos — a maioria dessas ocupações femininas acontece em áreas
informais e de baixa remuneração. A proporção entre mulheres e homens ativos no
mercado chega a 45,9%, mostrando uma distância ainda significativa.
Essa desigualdade não é exclusividade indiana. No Brasil, por exemplo, 56,5% das
mulheres participam da força de trabalho, contra 73,9% dos homens (IBGE/PNAD
Contínua, 2023). O cenário é numericamente “melhor”, mas a lógica é semelhante: elas
continuam minoria, e mesmo quando presentes, recebem em média 20% a menos. Em
contextos distintos, o que se observa é uma repetição: o peso do trabalho feminino não
se converte na mesma visibilidade ou reconhecimento.
As imagens revelam essa disparidade no cotidiano. Homens em multidões, gritando nas
ruas ou celebrando em festas, tornam-se a massa visível da cidade. Nos becos estreitos,
eles se reúnem em conversas, trabalham em bancas, descansam nos comércios. As
mulheres, por sua vez, surgem em fragmentos: a mãe que segura o filho no colo na
soleira de uma porta, ou aquelas que se fazem presentes apenas no limite do permitido.
No espaço do crematório, por exemplo, a cena é inteiramente masculina: às mulheres
não é permitido se despedir de seus entes queridos, afastadas do ritual final da vida. A
narrativa se constrói no contraste entre abundância e ausência: eles em maioria, elas em
intermitência.
No país mais populoso do mundo, metade da força de trabalho segue subaproveitada. O
que está em jogo não é só trabalho, mas presença. Porque um corpo invisível não move
apenas menos a economia. Ele move menos a própria história.